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quinta-feira, 31 de maio de 2012

As mulheres, as psicólogas, a psicologia... e o mundo do trabalho



Helena Miranda[1]
Darlane Andrade[2]
O mundo do trabalho encontra-se cada vez mais marcado, na atualidade, pela redução de empregos formais e pelo crescimento do trabalho informal acompanhado de formas precárias de utilização da força de trabalho. Nesse ínterim, observamos que essas atividades informais e precárias vêm sendo ocupadas por um grande quantitativo de mulheres.
Historicamente, às mulheres sempre foi reservado o exercício de tarefas de manutenção marcadas anteriormente pela plantação e colheita e, posteriormente, pelas ações de educar, cuidar e cozinhar. Na atualidade, ainda podemos ver a continuidade dessa lógica.

Discussões recentes atestam que profissões consideradas tradicionalmente femininas (enfermeiras, professoras primárias, secretária, assistentes sociais, empregadas domésticas, garçonetes, cabeleireiras, manicures, etc) são pouco valorizadas socialmente e essas desvantagens se dão tanto em termos de rendimentos quanto de qualidade das ocupações. Todas essas atividades encobrem diferentes graus de precarização do trabalho.
Na esfera laboral, os homens ainda se encontram em vantagem de oportunidades: possuem os maiores salários para os mesmos cargos desempenhados por mulheres, os cargos de chefia e de política são assumidos por eles em sua maioria e, quando resolvem trabalhar em áreas socialmente consideradas como tipicamente “femininas”, eles têm maior ascensão, pois se tornam chefes de cozinha, chefes de costura, etc.
Percebemos ainda que ser uma mulher trabalhadora em nossa sociedade implica em lidar não apenas com a desigualdade na esfera pública (no mundo do trabalho), mas também no terreno privado (dentro de casa), já que, quando as mulheres retornam ao lar após um dia cansativo de trabalho, ainda são elas quem assumem as tarefas com o cuidado da casa e dos filhos. Isso gera um nível de estresse substancialmente maior em relação aos homens que, de modo geral, se sentem desobrigados à realização dessas funções, ou, quando as realizam, fazem em momentos de lazer. Essa divisão desigual de tarefas que remete a uma jornada excessiva (dentro e fora de casa) representa um dos elementos do trabalho que contribuem para o adoecimento/sofrimento psíquico.
E já que estamos adentrando no terreno “psi”, o que falar das mulheres psicólogas? Apesar de representarmos 91% da categoria profissional no País (de acordo com pesquisa realizada pelo CFP em maio/2004[3]), são os homens psicólogos que geralmente ganham destaque na mídia, apresentando-se como referência em programas de TV, por exemplo, além de serem eles os principais autores/construtores de teorias no campo da Psicologia. Se pensarmos que esta mesma pesquisa aponta para a triste realidade de que 33% dos/as pesquisados/as (no total de duas mil pessoas) recebem até 5(cinco) salários mínimos e que 25% não possuem renda como psicólogo/a, podemos nos questionar sobre em que medida a feminilização da profissão repercute em sua precarização e desvalorização econômica e social.
Na tentativa de discutir dentro da Psicologia essas questões que possuem um enfoque de gênero, duas psicólogas da atual gestão do Sinpsi-Ba, Helena Miranda e Darlane Andrade, participaram da fundação do Grupo de Trabalho “Relações de Gênero e Psicologia” vinculado à Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia e, desde 2008, vêm estudando e desenvolvendo ações sob essa perspectiva. Entre uma das conquistas desse grupo, pode-se citar a desinvizibilização das mulheres psicólogas em todos as produções do CRP-03, utilizando-se os dois artigos (o/a, os/as) nos textos e ofícios. Considerando que a nossa Gramática arbitrariamente realiza o plural das palavras no masculino, a utilização dos dois artigos quebra essa lógica patriarcal e dá visibilidade às mulheres e às psicólogas em todas as construções.
O Sinpsi-Ba também se solidariza com essa discussão e não é à toa que o nosso Sindicato também possui um Estatuto gendrado, marcando, na escrita, a presença das psicólogas trabalhadoras. O Sindicato também tem promovido debates sobre as questões de gênero, diversidade e trabalho, em parceria com o CRP-03, e GT´s integrantes da Comissão de Direitos Humanos, para que se faça visível a questão tanto da precarização do trabalho quanto das diversas discriminações de gênero, raça/etnia, idade/geração, orientação sexual e outras que acometem trabalhadores e trabalhadoras.
Desta forma, convidamos a categoria a se engajar na luta por melhores condições de trabalho, em nome da valorização da profissão e de todos/as nós, profissionais da Psicologia, que queremos ser vistos/as e respeitados/as em nossas diferenças.
[1] Psicóloga Fiscal do CRP-03, suplente do Sinpsi-Ba, integrante do GT Relações de Gênero e Psicologia – CRP03, Mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pelo PPGNEIM/UFBA
[2] Psicóloga, suplente do Sinpsi-Ba, coordenadora do GT Relações de Gênero e Psicologia – CRP03, Doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pelo PPGNEIM/UFBA
[3] CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Sumário analítico. Pesquisa Ibope de Opinião com Psicólogos. Maio/2004.

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